Abandono de idosos e seus direitos ignorados
Se por um lado é ótimo o fato da expectativa de vida no Brasil vir aumentado cada vez mais, por outro, deveria haver por parte da sociedade maior preocupação com os membros da terceira idade em relação ao seu bem-estar e efetivação dos seus direitos e garantias.
Primeiramente, é preciso ter em mente que os idosos são pessoas que já contribuíram bastante com a sociedade, mas na hora de serem retribuídos enfrentam muitas dificuldades, já que, infelizmente, muitas pessoas não reconhecem seu valor como ser humano e muito menos respeitam seus direitos. Com isso, tiveram que criar algumas leis para a proteção dos idosos, porém, ainda faltam medidas para que essas leis os atendam de forma integral. Segundo o artigo 3º do estatuto do idoso, eles gozam de direitos referentes à vida, saúde, esporte, lazer, cidadania, etc., porém não é isso que observamos no dia a dia.
Para começar tem o mercado de trabalho, que é cruel e preconceituoso com os mais idosos, e está cada dia mais exigente, preferindo abertamente pessoas mais jovens, nem sempre tão qualificadas, e fazendo com que o idoso vá perdendo seu lugar pouco a pouco.
Assim, sem conseguir um lugar no mercado de trabalho, seja por motivos de saúde ou por não estar nos padrões que o mercado exige, o idoso começa se sentir inútil. Em casa não é muito diferente, ao perder seu trabalho, perde seu papel, e passa a ser considerado por sua família, muitas vezes, um incômodo e um ser desprovido de produtividade. Ou seja, o idoso passa a ser dependente, muitas vezes, necessitando de cuidados especiais, e muitas outras tantas vezes, acaba por ser “descartado” em asilos, instituições que são vistas como acolhedoras de idosos, completamente abandonados pela família. Vale sempre ter em mente que os idosos são as memórias que temos do tempo passado, e devem ser valorizados por sua vasta experiência, são pessoas que passaram por várias situações, altos e baixos, e que podem ser de enorme utilidade na sociedade, orientando os mais novos que estão percorrendo caminhos semelhantes aos que eles já percorreram.
Muita gente desconhece ainda as leis que garantem os direitos dos idosos, por exemplo, na Constituição Federal vigente no Capítulo VII – Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso, em seu artigo 229 diz que “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”. O artigo 230, também da Carta Magna, salienta sobre o amparo às pessoas idosas, garantindo-lhes o direito à vida, reconhecendo ser “dever da família, da sociedade e do Estado, amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar, garantindo-lhes o direito à vida.”.
Infelizmente, a realidade é outra, apesar do cuidado da família com o idoso estar previsto na Constituição Federal, o que podemos perceber é que nossa geração não se preocupa com seus idosos. Os velhos são vistos por muitos com olhar de desprezo e pena, como pessoas incapazes de viver intensamente a vida que lhes resta esperando o dia da morte.
O que vemos são adolescente e jovens terem como modelo a seguir artistas e celebridades, sendo muito raro ver alguém se espelhar em um idoso, independente do que o mesmo represente para a sociedade em termos de feitos e história.
O que é preciso saber é que se vivemos tempos de alta tecnologia e avanços incríveis, isso acontece pela grande colaboração dos que hoje são idosos, ou seja, pessoas que tanto contribuíram para nossa existência e hoje ocupam a posição de “menos importantes” em nossa sociedade, sendo até abandonados.
O fato é que há um crescente número de idosos em nossa sociedade, e por um lado, alguns possuem uma boa renda, podendo, assim, proporcionar um bom nível social para seus familiares, intensificando sua relação, já, por outro lado, os que possuem um nível econômico baixo, são geralmente abandonados por seus familiares em casas de repouso (asilos).
Vale saber que tais idosos residentes em casas de repouso, que não recebem regularmente a visita de familiares, costumam intensificar seus problemas de saúde ou desenvolverem mais doenças físicas e mentais do que os que recebem acompanhamento familiar com frequência.
E mais, a falta do acompanhamento familiar acaba afetando também a convivência do idoso com os outros, fazendo com que este fique mais afastado das atividades em grupo, tendendo ao isolamento cada vez mais, e esse isolamento acaba resultando em falta de apetite, depressão, baixa-estima dentre várias outras coisas que fazem com que o estado emocional do idoso fique comprometido, influenciando também em sua saúde.
Por isso, o Brasil com o número cada vez mais crescente de idosos precisa, antes de mais nada, conhecer e respeitar os direitos dos idosos e criar ações e campanhas para que possam ser devidamente valorizados e, claro, respeitados.